quinta-feira, 28 de maio de 2009

Soneto perfeito

Para relembrar, o soneto 74, do mestre da nossa amada língua.

Amor é um fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Luís Vaz de Camões

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Beijo infinito

Quero te beijar um beijo infinito
Estremecer seu corpo
Entorpecer seus sentidos
Adormecer seus pés
Enrubescer sua face
Enquanto mordo seus lábios

Quero te beijar um beijo inaudito
Arrepiar seus pelos
Eletrizar sua pele
Acelerar seu pulso
Estufar suas veias
Enquanto engulo sua boca

Quero te beijar um beijo inesquecível
Inebriar sua mente
Aquecer seu espírito
Amortecer seu tato
Encharcar seus poros
Enquanto trago sua língua

Quero te beijar um beijo inconcebível
Até que me perca no espaço,
esqueça o tempo e abandone a razão
Quero continuar te beijando
Até saciar meu desejo
Até preencher meu coração

A música do Mestre

Provavelmente foi o próprio Criador quem encomendou esta música para tocar no paraíso. Em sua infinita bondade, porém, Deus entendeu que deveria dividi-la com nós mortais. Assim, nasceu “Jesus, Alegria dos Homens”, uma jóia do mestre alemão Johann Sebastian Bach. Para se deleitar com sons divinos: http://www.youtube.com/watch?v=FwWL8Y-qsJg

terça-feira, 12 de maio de 2009

Era uma vez uma foto

Era uma vez uma foto com vida
Que fazia caras e bocas
E que me encarava
Sorriso enigmático
Qual Gioconda
Olhos negros gigantes
Penetravam meu âmago
Cabelos esparramados
Como ondas dadivosas
Pele de cobre
Como a pedir um toque
Lábios de sangue
Como a suplicar resposta
Face brilhante
Resplandescendo em vida
Sobrancelhas atônitas
Extrapolando mistérios
E para o todo completar
Como o toque final de um mestre
Uma pinta estratégica
Eternizava o instantâneo
Aquela foto invertia a ordem
Bagunçava meu universo
Fora feita para ser observada
Mas me observava
Fora revelada para deleite dos meus olhos
Mas eram seus olhos que me fitavam.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Saudade da inventividade musical dos anos 80

Lembro-me bem da primeira vez que vi este clip, do Talking Heads, em um programa da TV Cultura. A criatividade performática de David Byrne e seus parceiros me fisgou. No dia seguinte, corri para a loja e comprei o disco, o primeiro de uma série, desta banda que marcou uma década em que os cantores e músicos ainda pareciam ter, ao menos, a pretensão de fazer algo mais do que produzir um bom álbum para estourar nas vendas. A seguir, um link da inspirada “Once in a lifetime”.



http://www.youtube.com/watch?v=o7pVjl4Rrtc&NR=1

A rosa do Bandeira

A ROSA

vista incerta,
Os ombros langues,
Pierrot aperta
As mãos exagues
De encontro ao peito.
Alguma cousa
O punge ali
Que ele não ousa
Lançar de si,
O pobre doido!
Uma sombria
Rosa escarlata
Em agonia
Faz que lhe bata
O coração...Sangrenta rosa
Que evoca a louca,
A voluptosa
Volúvel boca
De sua amada...
Ah, com que mágoa,
Com que desgosto
Dois fios de água
Lavam-lhe o rosto
De faces lívidas!
Da veste branca
A larga túnica
Por fim arranca
A rosa púnica
Em um soluço.
E parecia,
Jogando ao chão
A flor sombria,
Que o coração
Ele arrancara!...

Lindo poema do grande Manuel Bandeira, que copiei na cara dura do Orkut da minha amiga Çiça!