terça-feira, 28 de abril de 2009

Como iniciar um romance – III

“Pelo quarto parecia-lhe estarem a se cruzar os elétricos, a estremecerem-lhe a imagem refletida. Estava a se pentear vagarosamente diante da penteadeira de três espelhos, os braços brancos e fortes arrepiavam-se à frescurazita da tarde. Os olhos não se abandonavam, os espelhos vibravam, ora escuros ora luminosos. Cá fora, duma janela mais alta, caiu à rua uma cousa pesada e fofa. Se os miúdos e o marido estivessem à casa, já lhe viria à idéia que seria descuido deles. Os olhos não se despregavam da imagem, o pente trabalhava meditativo, o roupão aberto deixava aparecerem nos espelhos os seios entrecortados de várias raparigas”.

Os brasileiros não poderiam ficar de fora desta série de grandes aberturas de romance. Esta é a inspirada abertura de “Laços de família”, de Clarice Lispector, uma das maiores escritoras brasileiras. Adorei o neologismo (?) "frescurazita".

A profundidade do óbvio

Quando pensarmos, procuremos evitar o óbvio
Fugir do superficial
Desviar da burra unanimidade
Antes, senão, tentemos buscar o profundo
Mirar no que é fundamental

Devemos vasculhar os detalhes
Abrir o raio da visão
Resistir à tentação do conveniente
Ignorar tudo o que é vil e leviano
Explorar os limites da razão

Mas se queremos algo descobrir
Qual Colombo, o novo desvendar
Uma lição não podemos desprezar

Às vezes, aquilo que há de mais profundo
É a obviedade mais desconcertante
A evidência dura, que teimamos ignorar

No one here gets out alive, now

A melhor música do Doors. Se bem que eu já achei que muitas outras eram as melhores. Doors é como vinho. E não apenas porque com o passar do tempo vai ficando mais patente a qualidade do rock que faziam, bem como sua influência sobre muitas outras bandas. Também porque, como no vinho, no quarteto de Los Angeles há sempre uma canção que te apaixona para cada momento. Se não conhecia esta canção de arrepiar, conheça. Se conhecia, delicie-se one more time. http://www.youtube.com/watch?v=9DfG1SNydnc

Enjoy!


Five to one

Five to one, baby
One in five
No one here gets out alive, now
You get yours, baby
Ill get mineGonna make it, baby
If we try
The old get oldA
nd the young get stronger
May take a week
And it may take longer
They got the guns
But we got the numbers
Gonna win, yeah
Were takin overCome on!
Yeah!Your ballroom days are over, baby
Night is drawing near
Shadows of the evening crawl across the years
Ya walk across the floor with a flower in your hand
Trying to tell me no one understands
Trade in your hours for a handful dimes
Gonna make it, baby, in our prime
Come together one more time
Get together one more time
Get together one more time
Get together, aha
Get together one more time!
Get together one more time!
Get together one more time
Get together one more time
Get together, gotta, get together
Ohhhhhhhh!
Hey, cmon, honey
You wont have along wait for me, baby
Ill be there in just a little while
You see, I gotta go out in this car with these people and...
Get together one more time
Get together one more timeGet together, got to
Get together, got toGet together, got to
Take you up in my room and...
Hah-hah-hah-hah-hah
Love my girlShe lookin good, lookin real good
Love ya, cmon.

domingo, 26 de abril de 2009

Direitos do Homem, parte um

Todo homem tem direito ao trabalho
Todo homem tem o direito de assegurar, honestamente,
o sustento de sua família
Todo homem tem direito a oportunidades para crescer
Mas o direito do homem vai muito além do pão
O homem tem o direito ao descanso após a labuta
O homem tem o direito de não receber ligações da firma à noite,
nem no sagrado fim-de-semana
O homem tem direito ao sono dos justos
Ao descanso do guerreiro
O homem tem o direito de programar férias,
e não apenas o dever de planejar as tarefas na companhia
O homem tem direito a planejar férias com mulher e filhos,
e também com os parentes e amigos,
e também como os amigos do amigo, parentes do parente,
e de levar o cachorro, o gato, o papagaio;
até o cunhado pode ser incluído
O homem tem o direito de ter o dever de cumprir o planejado com os seus,
sem que a prioridade corporativa se imponha
O homem tem o direito a feriados prolongados,
para subtrair o stress e restaurar as energias,
Ainda que sejam apenas aqueles que a escala de plantão permite
Mas que a escala seja equilibrada e justa,
e que seja concretizada
O homem tem o direito de gozar férias e feriados
sem o medo de ter seu posto ameaçado,
sem o risco de sua relevância no emprego ser questionada
Sem que sua ausência enseje puxadas de tapete
Todo homem tem o direito de trabalhar dentro do acordado
Tem direito até de trabalhar um pouco mais e ganhar por isto
Mas que o serão do workaholic ao lado não seja o exemplo
Sem que o comprometimento total do comandante-em-chefe pago em ouro seja o padrão
Sem que os puxa-sacos-filhos-da-mãe de sempre ditem as regras
O homem tem o direito de ganhar pelo que faz
e de fazer o que lhe prometem pagar
O homem tem, até, o direito de fazer um pouco mais do lhe exigem
Mas o homem tem, sobretudo, o direito de ter direitos!

sexta-feira, 24 de abril de 2009

A vaquinha do Joyce

"Certa vez - e que linda vez que isso foi -, vinha uma vaquinha pela estrada abaixo, fazendo muu! E esta vaquinha, que vinha pela estrada abaixo fazendo muu!, encontrou um amor de menino chamado pequerrucho Fuça-Fuça...".

Mais uma aula de como começar um romance, do grande James Joyce, o Rosa irlandês, artífice das palavras. Três linhas singelas, inventivas, monumentais, um cartão de visita à altura do romance que seguirá: "Retrato do artista quando jovem".

A Mariquinha do Rosa

Mariquinha é como a chuva:
boa é, p'ra quem quer bem!
Ela vem sempre de graça,
só não sei quando ela vem...

Cântico popular, por Guimarães Rosa, em "Sagarana".

Saberlo todo, serlo todo, poseerlo todo

Para venir a gustarlo todo
no quieras tener gusto en nada;
para venir a saberlo todo,
no quieras saber algo em nada;
para venir a posserlo todo,
no quieras poseer algo en nada;
para venir a serlo todo,
no quieras ser algo en nada;
para venir a lo que no gustas,
has de ir por donde no gustas;
para venir a lo que no sabes,
has de ir por donde no sabes;
para venir a poseer a lo que no posees,
has de ir por donde no posees;
para venir a lo que no eres,
has de ir por donde no eres;
Cuandos reparas em algo,
dejas de arrojarte ao todo;
para venir del todo al todo,
has de dejarte del todo en todo;
y quando lo vengas del todo a tener,
has de tenerlo sin nada querer.

San Juan de La Cruz, um dos maiores poetas espanhóis e cristãos de todos os tempos.

Bel’Ana

Ana, você disse não
Nana, naninha
Pensei em te esquecer
Mas acabei voltando
Sob as rédeas do coração
Uma volta incondicional
Só mesmo para te ver
Para saciar minha visão
Voltei pela luz dos teus olhos
Pela sua face angelical
Sua pele de bebê
Seus cabelos negros
Espalhados em seu corpo
Seus lábios carnudos
Doces trincheiras
A resguardar sua boca
Seu semblante meigo
Sua sobrancelha perfeita
Ah, minha bela Ana
Quanto Deus te fez
Nada foi em vão!

Leoncio K.

Querença desmedida

Quero-te em minhas mãos
Em meus braços, meu peito
Sentir sua respiração
Sua pele, seus pelos
Sua alma, seu coração
Almejo-te plena
Quero ouvir seu sussurro
Compartilhar seu silêncio
Ouvir seu grito
Provocar seu gemido
Conhecer seu encanto
Ofuscar-me em seu brilho
Estirar-me em seu colo
Quero-te já!
Quero-te mais
Quero-te sempre.

Leoncio K.

Ignorância infinita

"Em nosso cotidiano não entendemos quase nada do mundo. Pouco pensamos no mecanismo que gera a luz do Sol e possibilita a vida; na gravidade, que nos cola a uma Terra que, de outra forma, nos lançaria em rotação pelo espaço; ou nos átomos de que somos feitos e de cuja estabilidade dependemos fundamentalmente. Com exceção das crianças (que não sabem o suficiente para não fazer senão perguntas importantes), poucos de nós gastamos muito tempo considerando porque a natureza é do jeito que é; de onde surgiu o cosmo ou se ele sempre existiu; se o tempo algum dia voltará atrás, fazendo os efeitos antecederem as causas; ou ainda se existem limites máximos para o conhecimento humano".

Carl Sagan, na introdução a "Uma Breve História do Tempo", de Stephen W. Hawking.

Vênus e Marte

Homens são de Marte e mulheres de Vênus?
Em termos
Mulheres, sim, são de Vênus
Buscam o prazer insondável
Seguem a trilha do desejo
Amam por amar
Querem por querer
Óbvio demais, desnecessário repetir
Mas elas também são de Marte
Guerreiras invencíveis
Batalhadoras tenazes
Dão a vida pelo que é belo
Compreendem o que é sagrado
Respeitam seus instintos
Contrariam a lógica banal
E se superam na intuição
Mulheres valem um universo
Quentes como Mercúrio
Coração descomunal feito Júpiter
Esplêndidas como Saturno
Inalcançáveis como Plutão
Generosas como a Terra
Brilham como a Via-Láctea
Como cometas vêm e vão
Ao homem, resta o sonho
Pés fora do chão, cabeça na Lua
Fadado a orbitar
Forjado na caça ao mamute
Na captura do leão
Talhado para a guerra
Inclinado à aposta, exposto ao senão
O homem tem virtude démodé
É feito de barro rígido
Contundente, mas que trinca
Forte, mas destrutível
Mulheres vêm do barro mole
Flácido sim, débil jamais
Suave, mas não precário
Resiliente a toda prova
Feito para durar
Perfeito para se amoldar
Projetado para se ajustar
A mulher é a quintessência do futuro
Quando a cautela se sobressai à aventura
A persistência vale mais do que a audácia
A cooperação suplanta o arrojo
A perspicácia se soma à intuição
O abraço se contrapõe ao murro
A ternura supera a agressão
A sutil inteligência é o nome do jogo
A mulher deixa a escuridão
O horizonte do homem se esvai
A mulher é o humano certo na hora certa
O meteoro que muda a ordem já caiu
Só o homem não viu
Se viu, não percebeu
Se percebeu, não reagiu
O homem foi e é
A mulher é e será

A coisa mais chata do mundo

Sabe o que é mais chato do que fazer compra de mês? Possivelmente, nada. “Possivelmente” porque a concorrência é grande. Mas vamos às provas científicas, ao passo-a-passo desta torturante saga humana. Como se trata de uma atividade freqüente, não nos damos conta dela. Mas experimente analisar a ida ao supermercado em cada detalhe, separando-a em etapas. Bem, se é você quem faz as compras de mês na sua casa, talvez seja melhor não analisar, sob pena de nunca mais aceitar tal tarefa, a não ser trocando-a por todos os demais deveres domésticos, como abastecer o carro, pagar as contas, ir na reunião da escola, lavar a louça, levar o pet na tosa, etc. Ou, dependendo do seu temperamento, melhor fazê-lo. Pode servir como experiência catártica, que irá libertá-lo (a) da angústia profunda que sempre sente quando ouve sua mulher, marido, empregada ou filho (a) proferir aquela sentença enregelante: “não tem mais nada nesta casa, alguém tem de ir ao supermercado”. Enfim, de cansativo, chega o tema desta história. Então, vamos provar por “a” mais “b” porque as compras nos supermercados são a coisa mais chata do mundo.Como já dissemos, a melhor maneira de entender porque a compra de mês supera todas as demais inúmeras chatices universais é dividi-la em fases, numerando-as, como segue:

1) Fazer a lista é muito chato. Checar a geladeira, a despensa, o armário da lavanderia... Você tem a alternativa de fazer “de cabeça”, mas correndo o risco de deixar muita coisa de fora e ter de voltar muito antes do que imaginava ao supermercado ou de ter de recorrer ao careiro mercadinho da esquina. Má idéia. Se você tem empregada fixa, pode pedir para ela fazer. Mas terá de “repassar” a lista com ela, sob pena de incorrer no risco anterior. Não tem almoço grátis!2) Ir ao supermercado. Pegar o carro e ir ao supermercado, obviamente, é muitíssimo mais chato do que ir com a família ao cinema sábado à tarde ou pegar a estrada no feriadão. Enfim, é uma etapa chata per si. Mas adicione estresse se estiver chovendo ou, como manda a boa lei de murphy, se ocorrer de o alerta de despensa vazia soar em um sábado à tarde, horas antes de você receber os amigos! E o agravante será extra (sem qualquer trocadilho com marcas) se você escolher ir naquele hipermercado-hiper-longe-que-está-com-promoção, ou se for hora de rush, ou tudo ao mesmo tempo agora.3) Enfim, as compras. Vocês estão me entendendo, falei compra de mês. E obviamente estou levando em conta uma família nuclear padrão brasileira, casal e dois filhos. É gasto para encher bem mais de um carrinho. Se você tem um filho só não facilita muito, mas se tem mais de dois dificulta bastante. É progressão geométrica! É chato comprar tudo, mas temos de reconhecer, os produtos in natura são um porre. Escolher as verduras, pesar as frutas e legumes... Assustar-se (protestar não adianta, seu comunista!) com o preço estratosférico das carnes... E se você tiver a infeliz idéia de levar a prole, reserve orçamento extra para os chocolates e outras delícias caras e engordantes. Se forem dois ou mais bambinos, paciência extra para as brigas e brincadeiras bestas de praxe, como ameaçar a integridade física das pessoas em geral com corridas de carrinho.

4) O caixa. Aqui é a morada da lei de murphy. Não adiante muito escolher. Se você pegar a fila menor, provavelmente descobrirá que ela tem o caixa mais lento – daí as pessoas a estarem evitando, seu idiota! E se a fila for curta e o caixa esperto, ainda assim, pela lei das probabilidades, alguma coisa dará errado. Ou justamente na sua vez acontecerá a tradicional troca de turno de caixa, ou a moça terá de repor o papel e a máquina enguiçará, ou a única pessoa à sua frente terá um problema no cartão, obrigando o caixa a chamar o fiscal, que por sua vez chamará o gerente, que por sua vez... Enfim, nunca chegará a sua vez! E também não adianta dar uma de indiferente e escolher uma fila média para ver se sua sorte melhora. Nestes casos, inevitavelmente você ficará comparando a velocidade da sua fila com a das demais e notará o óbvio: aquele sonso da fila ao lado que chegou muito depois de você já está deixando o supermercado com ar de vencedor, enquanto sua mulher está no celular perguntando como você ainda não saiu da loja. Looser!5) Ufa, como Deus é bom! Parecia que você nunca atravessaria a fase 4, que morreria na fila. Mas a guerra está longe de terminar. Agora é levar o carrinho pesado até o carro. E não adianta se apressar, pois na esteira o carrinho fica parado. Mas como ainda não inventaram como colocar as sacolas de compras dentro do carro por telepatia, você terá de passar por mais esta. Com a diferença de que agora seu corpo já está bem cansado. E você tem apenas duas alternativas: a) colocar com cuidado, lentamente, primeiro os produtos pesados e duros, depois os leves e frágeis, separando os de higiene e limpeza dos alimentícios – o que é um saco; ou b) ir jogando tudo de qualquer jeito, o que é bem mais rápido (e até divertido), mas que certamente resultará em ovos quebrados, pães amassados e muita comida com gosto de detergente e água sanitária. Literalmente, é a lei de mercado, você decide!

6) Caminho de volta. Aqui uma surpresinha. Quando você veio o trânsito estava bom? Pois o tempão que você demorou lá dentro foi a conta para dar a hora do rush. E tome buzina logo que você sai do supermercado. Nem precisa dizer que a única maneira de você escapar deste congestionamento na saída é fazer o contrário e sair de casa na hora do movimento, assim quando terminar a compra estará mais calmo. De novo, livre escolha. Você escolhe como vai se ferrar, se no começo ou no final da história. Ah, ia esquecendo, se você quis aproveitar o preço mais em conta para comprar aqueles galões de água mineral, vai devagar senão eles rolam e amassam toda a compra.7) Chegou em casa, estaciona o carro, abre o porta-malas e deita a tirar as compras. Mora em casa? Então vai levar de saquinho em saquinho até a cozinha. Se mora em apartamento, vai atrás do carrinho. E não se esquecer que a etapa é outra, mas vale a mesma recomendação do “level five”. Ou faz tudo destrambelhado, quebrando e amassando uma porção de coisas, ou faz lenta e organizadamente, mas com o saco na lua!8) Fé no Senhor! Está no final. Mas é claro que a última etapa tinha de ser das mais chatas. Agora é guardar as compras. E não pense que só porque a geladeira e as despensas estavam vazias significa que elas estavam limpas e organizadas. Vazia é maneira de dizer. Elas estão cheias de resto de comida, embalagens no final, produtos vencidos. Enfim, ir jogando a compra de qualquer forma pode estragar os alimentos novos ou, tão ruim quanto, simplesmente não vai caber. Então, mãos à obra e vamos limpando e organizando tudo antes de guardar. Uma dica: tire tudo das sacolas antes de abrir a geladeira e a despensa e começar a guardar. Assim você ganha tempo e evita o abre-fecha de portas. Dica 2, a indispensável. Antes de começar a guardar, pegue umas duas ou três cervejas e coloque no congelador. Elas estarão no ponto assim que você terminar o trabalho e serão uma merecida recompensa para o guerreiro. Ligue a TV, sente-se no sofá e brinde. Cheers!

Na verdade, para comprimir a história em oito etapas, resolvi deixar de fora algumas passagens, de fato várias, geralmente mais curtas, mas nem sempre; e não necessariamente menos chatas. Vamos a estas, digamos, chatices menores com as quais somos brindados nas compras de mês:

a) O carrinho. Em algumas compras, esta é uma espécie de “vestibular” da fase 3, a da compra propriamente dita. Sobretudo em época de pagamento nas firmas, o movimento dobra e você tem de ficar esperando vagar um. E alguns supermercados ridículos deixam os carrinhos depositados em área distante do caixa, o que é muito desagradável quando é sua primeira compra lá e você só é informado quando já estava entrando na loja...b) Farra do crédito. Crise? Não falem de subprime para o batalhão de moças na entrada. Se você for mil vezes àquele supermercado, elas vão te perguntar mil vezes se você já fez o cartão da rede, e você terá de responder educadamente mil vezes “não”. “Não fiz e não quero fazer, pô!”

c) Tirar as compras do carrinho e por na esteira do caixa. Simples? Jamais. E aqui você pode ser aporrinhado dos dois lados. Por mais que você espere a compra do cara que te antecedeu correr na esteira antes de começar a colocar a sua, ele vai te olhar com cara de poucos amigos, como se fosse você a pessoa mais inconveniente do planeta. Agora tem o contrário. Você nem bem terminou de colocar seus produtos na esteira e o cliente seguinte, com todo aquele ar de apressado e despachado, já está começando a colocar a compra dele. E nem tem o cuidado de evitar de por uma lata lambuzada de baygon bem ao lado da sua alface orgânica!d) A fila do caixa pode reservar mil surpresas. Tem aquela também da fila curtinha, na verdade com apenas um único cliente, que está começando a por os produtos sobre a esteira. Você entra, se distrai, e nada de o sujeito terminar. Então você olha direito e descobre que se trata de um cara extremamente organizado. Ele colocou os produtos com tanto cuidado e esmero dentro do carrinho e, na verdade, a quantidade de produtos que ele está comprando equivale a umas três compras. Lata de leite condensado? Tem quinze, uma do ladinho da outra. E tome latinhas, de atum, pêssego em calda, e vidros de maionese, azeitona. Só agora você acordou para o fato de que o roliço consumidor à sua frente colocou o supermercado inteiro dentro do carrinho. E você esperando.

e) Tem também o pessoal sem pressa alguma. Normalmente em família. Para eles a compra é um passeio, um evento. Eles conversam entre si, com o caixa... E curtem cada etapa da compra. Colocam com todo o cuidado os produtos na esteira. Só depois começam a empacotar, amarrando as alças de saquinho por saquinho. E só depois começam a por de volta dentro do carrinho, normalmente “carrinhos”. Só após esta tarefa, o macho alfa da família, todo pimpão, tira a carteira do bolso para pagar. Antes, claro, ele dá uma checada no boleto do caixa, discute com a mulher se eram mesmo duas caixas de sabão em pó, se a maçã era gala ou fuji... "Benhê, você não ia pegar fraldinha pro churrasco?" O resto da fila, todos os demais clientes da loja, toda a humanidade, nada importa para tal cliente, apenas aquele precioso momento vivido no supermercado. E você aguardando.f) Uma chatice séria é o boleto da compra. Já notou que nenhum supermercado erra o valor para baixo, só para cima? Aqui não adianta improvisar. A rede pode ter origem francesa, americana ou brasileira, tanto faz. Parece que o software das caixas-registradoras é o mesmo. Eles vão cobrar sempre a manga mais cara, embora você tenha escolhido a mais barata. E se você quis aproveitar aquele azeite com preço promocional e pegou cinco vidros, não se esqueça de checar. Muito provavelmente, o caixa passará o preço normal, bem mais alto. E tem também a pegadinha do produto em lugar errado. Você ficou feliz em achar um vinho francês com rotulo promissor por R$ 29,90, mas no caixa descobre que passou o preço de R$ 69,90, porque na verdade tinham colocado o francês em cima da etiqueta de um argentino...

Nunca passou por qualquer destas experiências? Você nunca fez compra de mês. É feliz e não sabe!

Gotas de sabedoria

"Chorarei tão somente por aquilo em que acredito; acreditarei tão somente naquilo que sei ser fato; e tudo que eu puder remediar será feito à medida em que o tempo for se mostrando companheiro".

Macbeth, W. Shakespeare

terça-feira, 21 de abril de 2009

O dom primordial

Qual será o dom primordial?
Será a beleza do corpo que nos inebria?
Ou a inteligência que nos guia
?Será a sabedoria acumulada que ilumina?
Seria o bom caráter, que nos distancia do vício?
Ou demonstrar lealdade convenceria?
Mas qual seria o dom maior?
Seria a convicção, que nos liberta da dúvida?
Ou a coragem que tudo desafia?
Seria a mansidão extrema, que da ira nos defende?
Seria a placidez, que afugenta o stress?
Seria ainda a exatidão, que do erro nos desvia?
Mas o que mais poderia ser o dom primevo?
Seria o equilíbrio, antídoto do desvario?
Não nos esqueçamos da firmeza, da justiça,
Da generosidade, do brilho da imaginação
Sem falar da responsabilidade e da gentileza
Da competência, da perspicácia e da retidão.
Mas poupemos o verboE também o adjetivo
Pois só um dom resta substancia
lIsto nem novidade é
Há milênios se sabe, mas não custa reiterar
Pois a faina, a labuta de todo dia
Nem sempre ao homem permite
Explorar sua maior riqueza
Demonstrar sua força superior
Fazer valer seu magno poder
Então vamos ao ponto
Para tudo resumir, uma palavra bastaria
É o amor
Outro termo aqui não caberia
Sem ele, nem se feito anjos falássemos, nada valeria!

Leoncio K.

Como iniciar um romance - II

"Lolita, luz de minha vida, labareda em minha carne. Minha alma, minha lama. Lo-li-ta: a ponta da língua descendo em três saltos pelo céu da boca para tropeçar de leve, no terceiro, contra os dentes".

De Vladimir Nabokov, numa das melhores aberturas da história do romance em todos os tempos. Russo como Tóstoi, embora naturalizado americano. Esse povo das estepes entendia do riscado. Que o digam Dostoévsky, Chekov, Maiakóvisky, Turgeniev, Soljenistin e tantos outros.

Como iniciar um romance - I

"Todas as famílias felizes se parecem entre si; as infelizes são infelizes cada uma à sua maneira".

Meu xará, Leon Tolstói, abrindo com inspiração do gênio que foi o romance Ana Karênina.