“Pelo quarto parecia-lhe estarem a se cruzar os elétricos, a estremecerem-lhe a imagem refletida. Estava a se pentear vagarosamente diante da penteadeira de três espelhos, os braços brancos e fortes arrepiavam-se à frescurazita da tarde. Os olhos não se abandonavam, os espelhos vibravam, ora escuros ora luminosos. Cá fora, duma janela mais alta, caiu à rua uma cousa pesada e fofa. Se os miúdos e o marido estivessem à casa, já lhe viria à idéia que seria descuido deles. Os olhos não se despregavam da imagem, o pente trabalhava meditativo, o roupão aberto deixava aparecerem nos espelhos os seios entrecortados de várias raparigas”.
Os brasileiros não poderiam ficar de fora desta série de grandes aberturas de romance. Esta é a inspirada abertura de “Laços de família”, de Clarice Lispector, uma das maiores escritoras brasileiras. Adorei o neologismo (?) "frescurazita".
terça-feira, 28 de abril de 2009
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