sexta-feira, 24 de abril de 2009

A coisa mais chata do mundo

Sabe o que é mais chato do que fazer compra de mês? Possivelmente, nada. “Possivelmente” porque a concorrência é grande. Mas vamos às provas científicas, ao passo-a-passo desta torturante saga humana. Como se trata de uma atividade freqüente, não nos damos conta dela. Mas experimente analisar a ida ao supermercado em cada detalhe, separando-a em etapas. Bem, se é você quem faz as compras de mês na sua casa, talvez seja melhor não analisar, sob pena de nunca mais aceitar tal tarefa, a não ser trocando-a por todos os demais deveres domésticos, como abastecer o carro, pagar as contas, ir na reunião da escola, lavar a louça, levar o pet na tosa, etc. Ou, dependendo do seu temperamento, melhor fazê-lo. Pode servir como experiência catártica, que irá libertá-lo (a) da angústia profunda que sempre sente quando ouve sua mulher, marido, empregada ou filho (a) proferir aquela sentença enregelante: “não tem mais nada nesta casa, alguém tem de ir ao supermercado”. Enfim, de cansativo, chega o tema desta história. Então, vamos provar por “a” mais “b” porque as compras nos supermercados são a coisa mais chata do mundo.Como já dissemos, a melhor maneira de entender porque a compra de mês supera todas as demais inúmeras chatices universais é dividi-la em fases, numerando-as, como segue:

1) Fazer a lista é muito chato. Checar a geladeira, a despensa, o armário da lavanderia... Você tem a alternativa de fazer “de cabeça”, mas correndo o risco de deixar muita coisa de fora e ter de voltar muito antes do que imaginava ao supermercado ou de ter de recorrer ao careiro mercadinho da esquina. Má idéia. Se você tem empregada fixa, pode pedir para ela fazer. Mas terá de “repassar” a lista com ela, sob pena de incorrer no risco anterior. Não tem almoço grátis!2) Ir ao supermercado. Pegar o carro e ir ao supermercado, obviamente, é muitíssimo mais chato do que ir com a família ao cinema sábado à tarde ou pegar a estrada no feriadão. Enfim, é uma etapa chata per si. Mas adicione estresse se estiver chovendo ou, como manda a boa lei de murphy, se ocorrer de o alerta de despensa vazia soar em um sábado à tarde, horas antes de você receber os amigos! E o agravante será extra (sem qualquer trocadilho com marcas) se você escolher ir naquele hipermercado-hiper-longe-que-está-com-promoção, ou se for hora de rush, ou tudo ao mesmo tempo agora.3) Enfim, as compras. Vocês estão me entendendo, falei compra de mês. E obviamente estou levando em conta uma família nuclear padrão brasileira, casal e dois filhos. É gasto para encher bem mais de um carrinho. Se você tem um filho só não facilita muito, mas se tem mais de dois dificulta bastante. É progressão geométrica! É chato comprar tudo, mas temos de reconhecer, os produtos in natura são um porre. Escolher as verduras, pesar as frutas e legumes... Assustar-se (protestar não adianta, seu comunista!) com o preço estratosférico das carnes... E se você tiver a infeliz idéia de levar a prole, reserve orçamento extra para os chocolates e outras delícias caras e engordantes. Se forem dois ou mais bambinos, paciência extra para as brigas e brincadeiras bestas de praxe, como ameaçar a integridade física das pessoas em geral com corridas de carrinho.

4) O caixa. Aqui é a morada da lei de murphy. Não adiante muito escolher. Se você pegar a fila menor, provavelmente descobrirá que ela tem o caixa mais lento – daí as pessoas a estarem evitando, seu idiota! E se a fila for curta e o caixa esperto, ainda assim, pela lei das probabilidades, alguma coisa dará errado. Ou justamente na sua vez acontecerá a tradicional troca de turno de caixa, ou a moça terá de repor o papel e a máquina enguiçará, ou a única pessoa à sua frente terá um problema no cartão, obrigando o caixa a chamar o fiscal, que por sua vez chamará o gerente, que por sua vez... Enfim, nunca chegará a sua vez! E também não adianta dar uma de indiferente e escolher uma fila média para ver se sua sorte melhora. Nestes casos, inevitavelmente você ficará comparando a velocidade da sua fila com a das demais e notará o óbvio: aquele sonso da fila ao lado que chegou muito depois de você já está deixando o supermercado com ar de vencedor, enquanto sua mulher está no celular perguntando como você ainda não saiu da loja. Looser!5) Ufa, como Deus é bom! Parecia que você nunca atravessaria a fase 4, que morreria na fila. Mas a guerra está longe de terminar. Agora é levar o carrinho pesado até o carro. E não adianta se apressar, pois na esteira o carrinho fica parado. Mas como ainda não inventaram como colocar as sacolas de compras dentro do carro por telepatia, você terá de passar por mais esta. Com a diferença de que agora seu corpo já está bem cansado. E você tem apenas duas alternativas: a) colocar com cuidado, lentamente, primeiro os produtos pesados e duros, depois os leves e frágeis, separando os de higiene e limpeza dos alimentícios – o que é um saco; ou b) ir jogando tudo de qualquer jeito, o que é bem mais rápido (e até divertido), mas que certamente resultará em ovos quebrados, pães amassados e muita comida com gosto de detergente e água sanitária. Literalmente, é a lei de mercado, você decide!

6) Caminho de volta. Aqui uma surpresinha. Quando você veio o trânsito estava bom? Pois o tempão que você demorou lá dentro foi a conta para dar a hora do rush. E tome buzina logo que você sai do supermercado. Nem precisa dizer que a única maneira de você escapar deste congestionamento na saída é fazer o contrário e sair de casa na hora do movimento, assim quando terminar a compra estará mais calmo. De novo, livre escolha. Você escolhe como vai se ferrar, se no começo ou no final da história. Ah, ia esquecendo, se você quis aproveitar o preço mais em conta para comprar aqueles galões de água mineral, vai devagar senão eles rolam e amassam toda a compra.7) Chegou em casa, estaciona o carro, abre o porta-malas e deita a tirar as compras. Mora em casa? Então vai levar de saquinho em saquinho até a cozinha. Se mora em apartamento, vai atrás do carrinho. E não se esquecer que a etapa é outra, mas vale a mesma recomendação do “level five”. Ou faz tudo destrambelhado, quebrando e amassando uma porção de coisas, ou faz lenta e organizadamente, mas com o saco na lua!8) Fé no Senhor! Está no final. Mas é claro que a última etapa tinha de ser das mais chatas. Agora é guardar as compras. E não pense que só porque a geladeira e as despensas estavam vazias significa que elas estavam limpas e organizadas. Vazia é maneira de dizer. Elas estão cheias de resto de comida, embalagens no final, produtos vencidos. Enfim, ir jogando a compra de qualquer forma pode estragar os alimentos novos ou, tão ruim quanto, simplesmente não vai caber. Então, mãos à obra e vamos limpando e organizando tudo antes de guardar. Uma dica: tire tudo das sacolas antes de abrir a geladeira e a despensa e começar a guardar. Assim você ganha tempo e evita o abre-fecha de portas. Dica 2, a indispensável. Antes de começar a guardar, pegue umas duas ou três cervejas e coloque no congelador. Elas estarão no ponto assim que você terminar o trabalho e serão uma merecida recompensa para o guerreiro. Ligue a TV, sente-se no sofá e brinde. Cheers!

Na verdade, para comprimir a história em oito etapas, resolvi deixar de fora algumas passagens, de fato várias, geralmente mais curtas, mas nem sempre; e não necessariamente menos chatas. Vamos a estas, digamos, chatices menores com as quais somos brindados nas compras de mês:

a) O carrinho. Em algumas compras, esta é uma espécie de “vestibular” da fase 3, a da compra propriamente dita. Sobretudo em época de pagamento nas firmas, o movimento dobra e você tem de ficar esperando vagar um. E alguns supermercados ridículos deixam os carrinhos depositados em área distante do caixa, o que é muito desagradável quando é sua primeira compra lá e você só é informado quando já estava entrando na loja...b) Farra do crédito. Crise? Não falem de subprime para o batalhão de moças na entrada. Se você for mil vezes àquele supermercado, elas vão te perguntar mil vezes se você já fez o cartão da rede, e você terá de responder educadamente mil vezes “não”. “Não fiz e não quero fazer, pô!”

c) Tirar as compras do carrinho e por na esteira do caixa. Simples? Jamais. E aqui você pode ser aporrinhado dos dois lados. Por mais que você espere a compra do cara que te antecedeu correr na esteira antes de começar a colocar a sua, ele vai te olhar com cara de poucos amigos, como se fosse você a pessoa mais inconveniente do planeta. Agora tem o contrário. Você nem bem terminou de colocar seus produtos na esteira e o cliente seguinte, com todo aquele ar de apressado e despachado, já está começando a colocar a compra dele. E nem tem o cuidado de evitar de por uma lata lambuzada de baygon bem ao lado da sua alface orgânica!d) A fila do caixa pode reservar mil surpresas. Tem aquela também da fila curtinha, na verdade com apenas um único cliente, que está começando a por os produtos sobre a esteira. Você entra, se distrai, e nada de o sujeito terminar. Então você olha direito e descobre que se trata de um cara extremamente organizado. Ele colocou os produtos com tanto cuidado e esmero dentro do carrinho e, na verdade, a quantidade de produtos que ele está comprando equivale a umas três compras. Lata de leite condensado? Tem quinze, uma do ladinho da outra. E tome latinhas, de atum, pêssego em calda, e vidros de maionese, azeitona. Só agora você acordou para o fato de que o roliço consumidor à sua frente colocou o supermercado inteiro dentro do carrinho. E você esperando.

e) Tem também o pessoal sem pressa alguma. Normalmente em família. Para eles a compra é um passeio, um evento. Eles conversam entre si, com o caixa... E curtem cada etapa da compra. Colocam com todo o cuidado os produtos na esteira. Só depois começam a empacotar, amarrando as alças de saquinho por saquinho. E só depois começam a por de volta dentro do carrinho, normalmente “carrinhos”. Só após esta tarefa, o macho alfa da família, todo pimpão, tira a carteira do bolso para pagar. Antes, claro, ele dá uma checada no boleto do caixa, discute com a mulher se eram mesmo duas caixas de sabão em pó, se a maçã era gala ou fuji... "Benhê, você não ia pegar fraldinha pro churrasco?" O resto da fila, todos os demais clientes da loja, toda a humanidade, nada importa para tal cliente, apenas aquele precioso momento vivido no supermercado. E você aguardando.f) Uma chatice séria é o boleto da compra. Já notou que nenhum supermercado erra o valor para baixo, só para cima? Aqui não adianta improvisar. A rede pode ter origem francesa, americana ou brasileira, tanto faz. Parece que o software das caixas-registradoras é o mesmo. Eles vão cobrar sempre a manga mais cara, embora você tenha escolhido a mais barata. E se você quis aproveitar aquele azeite com preço promocional e pegou cinco vidros, não se esqueça de checar. Muito provavelmente, o caixa passará o preço normal, bem mais alto. E tem também a pegadinha do produto em lugar errado. Você ficou feliz em achar um vinho francês com rotulo promissor por R$ 29,90, mas no caixa descobre que passou o preço de R$ 69,90, porque na verdade tinham colocado o francês em cima da etiqueta de um argentino...

Nunca passou por qualquer destas experiências? Você nunca fez compra de mês. É feliz e não sabe!

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