sexta-feira, 5 de junho de 2009

Como iniciar um romance – IV

"No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia tapanhumas pariu uma criança feia. Essa criança é que chamaram de Macunaíma.
Já na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro passou mais de seis anos não falando. Si o incitavam a falar exclamava:
- Ai! que preguiça!..."

Nosso brilhante e irreverente Mário de Andrade, iniciando um dos romances mais marcantes do nosso século XX. Minha idéia inicial era homenageá-lo aqui transcrevendo outro trecho, o que descreve uma sessão de macumba. É fantástica. Não conheço este culto na vida real, mas ao ler me senti dentro de um terreiro, apesar de toda a fantasia que Mário adiciona, como faz ao longo de todas as histórias que conta no livro. Mas a narrativa é longa, consome páginas... Bem ao gosto do personagem, me deu uma preguiça... e resolvi me ater a esta abertura, que também é magnífica e tem poucas linhas, facilitando a leitura e a escrevinhadura.

2 comentários:

  1. Mário de Andrade é mesmo genial. De uma genialidade que revela sua grandeza quando pensamos que praticamente tudo o que ele escreveu foi revolucionário. Macunaíma, com sua preguiça, teve de lutar contra tantos conceitos pré-estabelecidos para se firmar como legítimo herói de nossa gente!
    Abraços e parabéns pela homenagem.

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  2. É isso aí, amigo. Ele conseguiu fundir regionalismo com universalidade como poucos.

    Abs

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